Cabral te viu!
Cabral nos viu!
De quem é essa liberdade?
Morrerei se possível
Defendendo meu lar.
Quem sou eu?
Talvez...
"o melhor gentio da costa".
Pegos "a laço" por Apoena!
Proibiram-te de falar?
Língua...
Quem te proibiu
de amar teu Deus?
Para onde foram
os exímios canoeiros?
Ah! Já sei!
Seguiram a correnteza
do rio imaginário
Acompanhado por
grandes corredores
Guerreiros terríveis!
Guerreiros que ... Lembrança...
Eu e o meu grupo arredio
Enfrentando barbudos
E não Barbados
Que outrora fora aqueles
Das bocas pretas pintadas
Cujas mulheres
Eram trocadas em casa
Sempre amadas...
Pelos nossos ancestrais
Milhares de povos
Somos nós, sou eu...
Você...
Milhares de homens, crianças
Mulheres adornando maridos
Adornos de plumas... de aves
Rituais...
Oferenda da preparação
Do jovem para a festa
“Festa do Tabaco”
Danças, cantos...
Muitos agradeciam
Cada um do seu modo...
Cada Deus... Cada vida
Ô Tupã, proteja as pessoas
a natureza
Para o Sol, devoção...
Cerimônia de Nomeação
Enfeites de pena!
Nomearei meu filho
Diante do sol nascente
o padrinho
Em seus braços o curumim
Juntos... Dançam
ao som de um apito
Do osso do pé do gavião-real
Agora o Sol desperta...
E governa o velho mundo
Chamado paraíso
Vários povos
“Povos das Cinzas”...
Cinzas de fogueira
Cinzas dos mortos...
Da cremação
Na tigela um ente querido
Mingau escuro...
E a alma permanece entre nós
Não importa se é boa ou ruim
Alma é alma
Espírito é espírito
Plantas e animais
também os têm
Menos a lei
Em outros cantos...
Mais um funeral...
Complexo...
Dois meses...
A morte provoca mudança
Reforça aliança
O que eu entendo disso tudo?
Não entendo nada
Sou contemporâneo!
Com – tem – po – râ – neo
Mas ainda troco utensílios
Com os Aweti troquei mulher
Nunca raptei
Mas tive vontade
Vontade de roubar...
aquelas que tecem cesta forte,
Cestas que carregam nenês.
Se eu conseguisse...
Seriam “troféus de guerra”
Veja Cabral, aquela mulher
Aquilo é um Uluri
O que é isso? Um cinto
Entrecasca de árvore
Sem ele, vê-se a nudez
Tudo só é permitido
por conta dela
Eu resumo tudo isso em
preparação
O Sardinha, antes de
ser devorado...
pelos “inimigos da civilização”...
Não sabia que as meninas,
nos dias...
Submetem-se à iniciação.
Sempre na Lua cheia
Lua da bondade,
beleza e sabedoria
Lua, lua, lua, lua
Lua refletida nas águas do rio
Rio que tem lá no fundo
um pedaço de madeira
Com um desenho do peixe
a capturar
Madeira que não vai me
afundar;
Lembrança...
Foste alegre... Rico
Todos na diversidade musical
Danças, indumentárias...
Peculiaridade.
Quer saber! Vou falar!
São vaidosos
Gastam dias com plumas belas
Coloridas e variadas
Enfim, adornos...
E nos discursos,
Bom senso
Alguns só se deixam levar
pela razão
Jamais
sem conhecimento de causa
Outros preferem a monogamia
Censura ao divórcio!
Tá com medo Cabral?
E olha que eu nem te enchi de
terror
Somos bonzinhos?
Maus?
Há aqueles que são canibais
Que foram
intrépidos caçadores...
de tubarões
Eu... Não sei...
Mas convenhamos...
Vim aqui falar mal de mim?
De nós... Deles?
Daqueles que possuem
estrutura cultural
Estrutura homogenia
Do homem que quando se casa
Vive com a família da mulher
E trabalha pra retribuir a ela
Tudo que ela fez por ele
Isso se chama respeito
Como o respeito às formigas
Com vocês a Tocandira
Divindade...
Rituais de passagem.
É corajoso garoto?
Então coloque a mão
dentro da luva
As Tocandiras estão lá...
Esperando-te!
Eu resisti à dor!
Sou agora um adulto!
Se não pode... Corre!
Buriti nos ombros
Não precisa chegar primeiro
Divirta-se apenas
Qual o seu nome?
Desculpe-me...
Não pode ser divulgado
O meu nome
eu não digo a ninguém
Ele é o meu segredo
Quem diz o nome,
transfere poder
E fica sem ele... Fica sem si
Fica doente
Fica sem terra
Fica sem cultura
Sem valor
Sem etnia
Sem força pra preservar
o que não teve.
Nomearam os povos
Nomeou quem aqui estava
Nomearam a mim
Acharam que estavam
nas índias
E daí?
Denominação genérica
foi a solução
Foi de propósito
Ignoraram as diferenças
Diferenças lingüístico-culturais.
É mais fácil tornar os nativos...
iguais
Tratá-los de forma homogênea,
E assim, ter domínio
político, econômico e religioso.
Epa! Cadê a poesia
Foi embora com a vida...
Chega de nhenhenhem
Como vamos chamar?
Chamemos de Índio!
Índio!
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