terça-feira, 23 de novembro de 2010

ÍNDIOS...

     Cabral te viu!

Cabral nos viu!

De quem é essa liberdade?


Morrerei se possível

Defendendo meu lar.


Quem sou eu? 
Talvez...
"o melhor gentio da costa".


Pegos "a laço" por Apoena!

Proibiram-te de falar?

Língua...

Quem te proibiu 
de amar teu Deus?


     Para onde foram 
     os exímios canoeiros?


Ah! Já sei! 
Seguiram a correnteza 
do rio imaginário

Acompanhado por 
grandes corredores

Guerreiros terríveis!
Guerreiros que ... Lembrança...


Eu e o meu grupo arredio

Enfrentando barbudos

E não Barbados

Que outrora fora aqueles

Das bocas pretas pintadas

Cujas  mulheres

Eram trocadas em casa

Sempre amadas... 
Pelos nossos ancestrais


Milhares de povos

Somos nós, sou eu...

Você...

Milhares de homens, crianças

Mulheres adornando maridos

Adornos de plumas... de aves

Rituais... 
Oferenda da preparação

Do jovem para a festa

“Festa do Tabaco”

Danças, cantos... 
Muitos agradeciam

Cada um do seu modo... 
Cada Deus... Cada vida

Ô Tupã, proteja as pessoas 
a natureza

Para o Sol, devoção... 
Cerimônia de Nomeação

Enfeites de pena!


Nomearei meu filho

Diante do sol nascente 
o padrinho

Em seus braços o curumim

Juntos... Dançam 
ao som de um apito

Do osso do pé do gavião-real


Agora o Sol desperta... 
E governa o velho mundo

Chamado paraíso

Vários povos

“Povos das Cinzas”... 
Cinzas de fogueira

Cinzas dos mortos... 
Da cremação

Na tigela um ente querido

Mingau escuro... 
E a alma permanece entre nós

Não importa se é boa ou ruim

Alma é alma

Espírito é espírito

Plantas e animais 
também os têm

Menos a lei


Em outros cantos... 
Mais um funeral...

Complexo...

Dois meses...

A morte provoca mudança

Reforça aliança


O que eu entendo disso tudo?

Não entendo nada

Sou contemporâneo!

Com – tem – po – râ – neo


Mas ainda troco utensílios

Com os Aweti troquei mulher


Nunca raptei

Mas tive vontade

Vontade de roubar...
aquelas que tecem cesta forte,

Cestas que carregam nenês.

Se eu conseguisse... 
Seriam “troféus de guerra”


Veja Cabral, aquela mulher

Aquilo é um Uluri

O que é isso? Um cinto

Entrecasca de árvore

Sem ele, vê-se a nudez

Tudo só é permitido 
por conta dela


Eu resumo tudo isso em 
preparação

O Sardinha, antes de 
ser devorado... 
pelos “inimigos da civilização”...

Não sabia que as meninas, 
nos dias...

Submetem-se à iniciação.

Sempre na Lua cheia

Lua da bondade, 
beleza e sabedoria


Lua, lua, lua, lua

Lua refletida nas águas do rio

Rio que tem lá no fundo 
um pedaço de madeira

Com um desenho do peixe 
a capturar

Madeira que não vai me 
afundar;


Lembrança...


Foste alegre... Rico

Todos na diversidade musical

Danças, indumentárias...

Peculiaridade.


Quer saber! Vou falar!

São vaidosos

Gastam dias com plumas belas

Coloridas e variadas

Enfim, adornos...


E nos discursos,

Bom senso

Alguns só se deixam levar 
pela razão
Jamais 
sem conhecimento de causa


Outros preferem a monogamia

Censura ao divórcio!


Tá com medo Cabral?

E olha que eu nem te enchi de 
terror

Somos bonzinhos?

Maus?


Há aqueles que são canibais

Que foram 
intrépidos caçadores...
de tubarões
Eu... Não sei...


Mas convenhamos... 
Vim aqui falar mal de mim?

De nós... Deles?

Daqueles que possuem 
estrutura cultural

Estrutura homogenia

Do homem que quando se casa

Vive com a família da mulher

E trabalha pra retribuir a ela

Tudo que ela fez por ele


Isso se chama respeito

Como o respeito às formigas


Com vocês a Tocandira

Divindade... 
Rituais de passagem.

É corajoso garoto?

Então coloque a mão 
dentro da luva

As Tocandiras estão lá... 
Esperando-te!

Eu resisti à dor!

Sou agora um adulto!


Se não pode... Corre!

Buriti nos ombros

Não precisa chegar primeiro

Divirta-se apenas

Qual o seu nome?

Desculpe-me... 
Não pode ser  divulgado

O meu nome 
eu não digo a ninguém

Ele é o meu segredo

Quem diz o nome, 
transfere poder

E fica sem ele... Fica sem si


Fica doente

Fica sem terra

Fica sem cultura

Sem valor

Sem etnia

Sem força pra preservar 
o que não teve.


Nomearam os povos

Nomeou quem aqui estava

Nomearam a mim

Acharam que estavam 
nas índias


E daí?

Denominação genérica 
foi a solução


Foi de propósito

Ignoraram as diferenças

Diferenças lingüístico-culturais.


É mais fácil tornar os nativos... 
iguais

Tratá-los de forma homogênea,

E assim, ter domínio 
político, econômico e religioso.

Epa! Cadê a poesia


Foi embora com a vida...


Chega de nhenhenhem

Como vamos chamar?

Chamemos de Índio!


Índio!

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